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200 mil mortos: o fim da margem de manobra da pandemia brasileira

De Corona Wiki

No momento em que o Brasil atingiu oficialmente a trágica marca de 200 mil mortos em decorrência da covid-19 – a maior perda de vidas brasileiras associada a um único evento em toda a nossa história – avizinha-se no horizonte uma crise ainda mais grave do que aquela vivida na primeira onda da pandemia em 2020, alguns dos fatores que predizem essa crise:


  • Diferente do ocorrido nos primeiros meses do ano passado, hoje todas as cinco regiões brasileiras apresentam uma aceleração dos casos de covid-19 ao mesmo tempo. Este crescimento síncrono envolve o aparecimento de grandes surtos nas capitais, em suas regiões metropolitanas e nas cidades do interior. Pior, em algumas capitais de estado (por exemplo, Aracaju), as curvas de novos casos estão crescendo numa velocidade ainda maior do que a que foi observada nos meses de março e abril de 2020.
  • As taxas de ocupação de leitos de UTI também começam a cruzar o patamar crítico de 80%.
  • O espaço aéreo brasileiro permaneceu aberto durante os últimos meses, mesmo depois da identificação, realizada por cientistas do Reino Unido, de uma nova cepa do SARS-Cov-2, cuja taxa de transmissão é quase 70% maior do que a das cepas que circularam pelo Brasil no ano de 2020.
  • O sistema de saúde pública do país, já depauperado pelos cortes orçamentários dos últimos anos, foi fortemente abalado pelas consequências da primeira onda de internações hospitalares que acometeu o país durante 2020, batendo todos os recordes históricos, uma segunda onda explosiva de casos graves de covid-19 pode levar a um colapso não mais regional, mas nacional, de todo o sistema de saúde brasileiro.
  • Além da enorme perda de profissionais de saúde, redução dos estoques de medicamentos básicos e um desgaste sem precedentes de toda a sua força de trabalho, o SUS ainda vai ter que lidar com uma demanda crescente e gigantesca de pacientes acometidos por sequelas graves da covid-19 (como insuficiência respiratória e renal, e distúrbios neurológicos), bem como de todos os outros pacientes portadores de doenças crônicas que não puderam ter acesso a serviços hospitalares ao longo de 2020. A esta demanda reprimida deve-se somar ainda toda a necessidade natural e rotineira de leitos de enfermaria e UTI num país recordista de acidentes de trânsito, doenças cardiovasculares e neurológicas e toda sorte de enfermidades.
  • Aumento da procura pelo SUS, pois os aumentos extorsivos dos impostos pelas operadoras brasileiras e à queda de renda gerada pela crise econômica, fez com que pessoas que pagavam planos de seguro-saúde privado, hoje, só tenham o SUS como alternativa de auxílio médico.
  • A total ausência de um cronograma e de um plano operacional para vacinação em massa no Brasil, a cada dia que passa, atrasa o fim da pandemia e contribui decisivamente para o agravamento da crise sanitária do país.


Em face deste quadro potencialmente cataclísmico, toda a margem para omissões, adiamentos, postergações e negacionismo da verdadeira face da crise brasileira foi consumida e eliminada. O país hoje transita no limiar de um desastre sem precedentes e que pode levar décadas para ser revertido. [1]


Referências

NICOLELIS, Miguel. 200 mil mortos: o fim da margem de manobra da pandemia brasileira. Entendendo Bolsonaro, 07 de janeiro de 2021. Disponível em: https://entendendobolsonaro.blogosfera.uol.com.br/uol_amp/2021/01/07/200-mil-mortos-o-fim-da-margem-de-manobra-da-pandemia-brasileira/?__twitter_impression=true